O Reino do Real: duas ou três coisas sobre documentário e jornalismo.
O que se distingue um documentário de uma reportagem? Não há professor que não tenha sido interpelado por essa questão. Não há curso de documentário imune ao desconcerto que essa indagação nos impõe. Não há jornalista que jamais tenha se deixado levar pelas portas que essa pergunta abre. Não se trata de uma pergunta fácil. Muito pelo contrário. E ela nos chega com uma urgência por demais afeita à uma série variada de simplificações, ancoradas em termos complicados(“realidade”,”representação”,”discurso”,”significação”, “ética”, etc.) e em veladas pressuposições ( o que vem a ser documentário? E jornalismo?). Nascidos em um contexto industrial e sob a direta interferência da máquina em sua produção, ambos os gêneros constituem boa parte do reino dos discursos sobre o real. Falar de documentário e jornalismo é atravessar um contexto de saturação de variadas “representações do real”, no qual a televisão, o cinema, a publicidade, o vídeo, a mídia em geral, não param de fabricar e nos impor imagens, designando as como “reais”. Ambos são categorias permeáveis e variáveis, modos de ver constituídos historicamente por rotinas produtivas, por transformações sociais, por relações e interesses comerciais e políticos, por estéticas, metodologias e técnicas inventadas por diferentes movimentos. Esta apresentação se esforça por operar nessa multiplicidade. Ao longo do caminho, algumas diferenças e outras tantas afinidades são atravessadas, com um horizonte à frente: a história do documentário e do jornalismo e a relação entre estes domínios pertencem ao futuro e aos esforços ainda por vir.
