XXVII ENCONTRO SOCINE – Audiovisual/UFMS

Postado por: Juliana Alves Moreira Dias

A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual – SOCINE – foi criada em novembro de 1996 com o objetivo de promover a realização e o intercâmbio de pesquisas e estudos de cinema em suas mais diferentes manifestações, incentivando assim a reflexão e a troca de ideias sobre cinema e audiovisual no Brasil. Em 2024, o XXVII Encontro SOCINE será sediado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), organizado pelo Curso de Audiovisual da Faalc. O evento acontecerá entre os dias 22 e 25 de outubro, reunindo acadêmicos e profissionais para debates e apresentações.

Tema do encontro: DESVER O MUNDO, REINVENTAR A CENA.

A poesia de Manoel de Barros não explica, mas “desexplica”. Ela cultiva uma visão torta das coisas. Seu olhar não é reto, mas sinuoso, apegado a inversões, curvas e deformações. Talvez como Clarice Lispector, que dizia escrever para chegar “atrás de detrás dos pensamentos”. Ou como Oswald de Andrade, que queria ver com “olhos livres”. Desver é fazer a crítica a um mundo mais referencial, a uma versão viciada e viciante das coisas e de nós mesmos. Desver o mundo é devolver nossos sentidos à vida, restaurar sua heterogeneidade, explorar suas inesgotáveis possibilidades. Desver o mundo é generalizar a criatividade como um dado universal.

É este sentido ético, político e poético que o termo Desver sugestiona que, de maneiras variadas, sintetiza os desafios de se trabalhar com audiovisual neste canto do Brasil. A despeito dos esforços empreendidos, a economia e a academia audiovisual brasileiras permanecem concentradas em regiões metropolitanas do Sudeste. Estar no Centro-Oeste não implica apenas uma mera designação geográfica. Está mais para uma condição existencial. É sentir na pele a necessidade de uma maior capilarização nos investimentos em produção, preservação, difusão, formação e pesquisa. É conhecer um Brasil outro, marcado pela imigração japonesa e pelo pantanal, onde ouve-se guarani, come-se saltenha e chipa paraguaia, e se experimentam quatro estações em um mesmo dia.

O Curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul é o primeiro do Estado, criado em 2019, num gesto de absoluta coragem, para atender uma enorme demanda local. Uma demanda que se sente a cada esquina e que acabou por moldar o perfil extensionista do curso que já vem deixando sua marca na vida cultural da Cidade Morena. Essa vontade de audiovisual, no entanto, revela uma curiosa espécie de paradoxo. Fazer, estudar e pesquisar audiovisual no Mato Grosso do Sul é conviver cotidianamente com uma certa precariedade e urgência. É sentir-se à margem, distante, vulnerável; e no centro, protagonista, às voltas com a necessidade de construir e recriar formas diversas de se pensar, fazer e pertencer.

A realização do SOCINE – pela primeira vez deste lado do Brasil, em um território que faz fronteira com dois países e cinco Estados – é uma oportunidade para se pensar outras produções, pertencimentos, olhares, modos de sentir, pensar e fazer audiovisual para além das dicotomias que tanto nos conformam. “Desver o mundo, reiventar a cena” é especular a respeito de uma historiografia diversa, adensar a emergência de cenas audiovisuais para além do eixo, explorar questões envolvendo o setor de exibição, a produção indígena e dos nossos vizinhos bolivianos e paraguaios, e a formação universitária no Centro Oeste.

O SOCINE como uma maneira de ver, rever e transver o audiovisual em um mundo sem centro ou margem. Que o encontro deste ano seja, também e ao mesmo tempo, um desencontro. Que andemos sem rumo. Que tropecemos. Que nos desencontremos conosco mesmos e com tudo o que aprendemos: eis o audiovisual, sempre à nossa frente.

(Texto)

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